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O templo de Jano

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Quando as portas do templo de Jano ficavam fechadas ...

Jano é o deus que olha o interior e o exetrior, que vê o Oriente e o Ocidente, o passado e futuro. Isso explica a sua representação com duas faces opostas, facto que originou os vários atributos de bíceps, biformis, ancipiti imagine, duplice imagine, gemina facies.
Jano fundou uma cidade, que ele chamou Janículo. O seu reinado foi feliz e cheio de paz: por isso, foi sucessivamente honrado como deus da paz.
O escritor Macróbio, que viveu no século V d.C., atribui as origens do culto de Jano à guerra sabina, quando o inimigo, entrado na cidade através da Porta Janualis, foi dominado por uma torrente de água fervente, que de repente tinha saído do templo de Jano.  Por esta razão, foi decretado que durante as guerras as portas do templo de Jano deviam permanecer abertas para que o deus pudesse oferecer a sua ajuda em qualquer momento.

O culto de Jano estava ligado àquele de Quirino; às vezes, este culto era indicado com o nome de Jano Geminus.
Este nome foi dado ao mais antigo santuário do deus, que ficava em infimum Argiletum, em Roma, e onde estava a famosa estátua do deus bicípite; tornou-se famoso através dum ritual que na tradição é citado numa lei de Numa (Numa ... Ianum ad infimum Argiletum indicem pacis bellique fecit..., Tito Lívio I, 19, 2); este rito consistia na abertura ou no encerramento do templo, respectivamente em caso de guerra ou de paz. Este rito deu origem a duas versões: a mais comum apresenta Jano como guardião da Paz, encerrada no seu santuário (Ovídio F. I, 281: "Pace fores obdo, ne qua discedere possit" e Horácio em Ep. lI, 1, 255, expressa o mesmo conceito); a outra, pelo contrário, é aquela do poeta Virgílio que imagina a Guerra encerrada no templo, sob a supervisão do deus. Ambas as interpretações justificavam os epítetos de Patulcius e Clusius atribuídos à divindade.

O templo de Jano

A localização exacta do templo é incerta, mas coloca-se geralmente o edifício no Argiletum, perto da Basílica Emília. As fontes antigas são de discordante opinião sobre este assunto. O historiador Lívio, de facto, coloca-o em Infimum Argiletum, enquanto o poeta Ovídio entre o foro republicano e aquele de César ("hic ubi iunctaforis templa duobus habes", F. I, 258) e Macróbio perto do Viminal. As únicas imagens do edifício, desaparecido sem deixar rasto, aparecem em algumas moedas de Nero, que comemorou o encerramento do santuário com uma série emitida pelas casas da moeda de Roma e de Lugdunum. É surpreendente que nem o deus nem o seu templo apareçam na iconografia monetária do primeiro imperador. De facto Augusto, embora ressalte nas Res Gestae o encerramento do templo de Jano, não o apresenta nas moedas e nem sequer pode ser substituído pela representação da Pax, reproduzida em algumas emissões e demasiado frequente nas imagens monetárias, sem que houvesse então uma exacta correspondência com este estado de coisas.
Este santuário deve ser distinguido do outro templo de Jano, que as fontes colocam iuxta theatrum  Marcelli e que foi construído por C. Duilio durante a Primeira Guerra Púnica e restaurado por Tibério em 17 d.C.
O mais antigo e mais importante santuário de Jano, que foi fechado em raras ocasiões quando o império estava em paz, era composto por dois arcos unidos por uma parede.
A estátua bicípite da divindade estava localizada no centro da passagem, que provavelmente devia ser uma antiga porta da cidade.

A representação do templo  de Jano nas moedas

Jano, divinidade autóctona, romano desde as origens, não recebeu nenhuma dedicatória nem em Roma nem no Lácio, onde reinou durante o auge da idade de ouro; nem sequer aparece na escultura monumental oficial, representado nem sozinho nem em companhia de imperadores ou grandes deuses. Pelo contrário, Jano e o seu templo aparecem ocasionalmente no reverso das moedas ou dos medalhões cunhados em Roma.
O significado político, religioso, histórico e comemorativo destas representações monetárias varia duma emissão para outra. Varia conforme as circunstâncias, mas também conforme a mesma polivalência de Jano, deus da paz e da guerra, do caos e do céu, da luz solar e do tempo. Às vezes, o deus é comemorado na iconografia monetária em épocas que não coincidem com os tempos de paz universal. São signifivativas também as "ausências", quando pelo contrário esperaríamos uma referência, uma alusão. Assim é ilustrado o encerramento do templo de Jano nas emissões de Nero, mas não naquelas de Augusto, de Marco Aurélio e de Gordiano III, que pelo contrário fecharam de uma forma simbólica a Guerra (ou a Paz) por trás das pesadas portas de bronze. Como vimos, o deus bifronte não aparece nas moedas de Augusto, nem sequer naquelas de Tibério e de Calígula. O encerramento do templo não é relatado em nenhuma fonte durante estes dois reinados, nem sequer durante a época de Cláudio. Este tomou o poder num período que coincidia - ou poderia coincidir - com o tricentenário do templo de Jano, levantado no foro Olitório em 260 a.C. por C. Duilio.
Entre as personificações que abrem a série dos denários e dos áureos de Cláudio em 41-42, encontramos a Pax Augusta; os reversos com a escrita PACI AVGVSTAE lembravam portanto que o alvorecer duma nova era de paz correspondia ao tricentenário desta consagração no Foro Olitório. No entanto, não é o encerramento deste templo, mas aquele do templo de Jano Geminus que marcou a Paz.

Algumas moedas de Nero comemoraram o encerramento do templo de Jano após a vitória de Corbulo. Os áureos representam de maneira simples, sem infundir qualquer profundidade à imagem, a fachada rectangular do templo com a porta de dois batentes, seguindo uma frontalidade plana e quase abstracta. Pelo contrário os asses, os dupôndios e os sestércios apresentam o templo de Jano visto em perspectiva, representado em três quartos, com a porta agora virada à direita, agora à esquerda. As portas, equipadas com dois grandes anéis, são divididas em três secções. São as famosas portas de bronze de que falam Virgílio e Procópio. Muitas vezes uma grinalda semi-circular marca a arquitrave.
Na fachada lateral, dispostas de forma visível à esquerda da entrada, outras grinaldas marcam o limite superior ou inferior dum friso de gavinhas floridas. Acima deste friso floreal, uma espécie de ático está elegantemente decorado com palmetas, que coroa todo o edifício. A única referência que temos é aquela de Procópio, que descreve o templo como um edifício todo de bronze, quadrado, suficientemente grande para cobrir a estátua bifronte de bronze do deus. Todos os estudiosos concordam com esta descrição, que representa muito bem a imagem fornecida pelas moedas.

Significado da representação do templo nas moedas

No discurso programático após a subida ao trono escrito por Séneca, Nero, embora quisesse inspirar-se os mais brilhantes exemplos de governo transmitidos por Augusto, sublinha a atmosfera de serenidade que caracteriza o início do seu reinado: nenhuma guerra civil, nenhuma discórdia interna, nem ódio, nem rancor.
O encerramento do templo de Jano consagrava o protectorado de Roma da Armênia. A lenda ACE P(opuli) R(omani) TERRA MARIQ(ue) PARTA IANVM CLVSJT lembra a expressão das Res Gestae. Alguns asses e dipôndios, pelo contrário, mostram a lenda  PACE VBIQ(ue) PARTA, que sublinha a preocupação de glorificar a paz imperial como universal.
Esta variante quer também singularizar o encerramento do templo, que no ano 66 tinha a vantagem de se cumprir 300 anos depois da única comprovada na era republicana, aquela do ano 235 a.C. As moedas que comemoraram o evento foram cunhadas a partir de 64 e muitas vezes desde 66. É difícil encontrar um acordo entre as fontes relacionadas com o encerramento do templo, que ocorreu em 66, com as emissões monetárias que começavam a reproduzir o templo de Jano desde 64. O historiador Suetónio coloca o encerramento do templo de Jano Geminus imediatamente após a coroação de Tiridates em Roma, ocorrida provavelmente em 66: "ob quae imperator consalutatus, laurea in Capitolium lata, lanum Gemi num clausit, tam nullo quam residuo bello".  Suetónio afirma portanto que o encerramento ocorreu em 66 d.C., enquanto as primeiras séries monetárias datam de 64 d.C.

Mattingly acredita que a cerimónia foi formalmente repetida em 66, depois de ter sido originalmente celebrada em 64. Segundo o autor, de facto, Nero tinha a urgente necessidade de tranquilizar a opinião pública através de qualquer meio, como ficou preocupada após o incêndio de Roma. Segundo Grant, os cunhos do 64 preanunciariam o encerramento do templo, adiado em 66 d.C. por Nero para o fazer coincidir com o tricentenário do primeiro encerramento, que caía exactamente naquele ano, citado por T. Mânio em 253 a.C. É provável que se propagasse a imagem do templo de Jano com as portas fechadas, acompanhada pela lenda IANVM CLVSIT, para que a opinião pública, desejando a paz, fosse influenciada positivamente.
A propaganda imperial, que foi posta em prática também através das tipologias monetárias, publicita e muitas vezes antecipa os eventos. Podemos portanto supor que este seja o caso aqui examinado: Nero valorizou novamente o culto de Jano tornando-o popular em favor da paz, mas esperou pelo ano 66 para a solenizar com uma comemoração oficial.  O encerramento efectivo podia ter acontecido em 64 ou 66, mas a cerimónia foi intencionalmente atrasada para que esta acompanhasse e terminasse a visita de Tiridates e, portanto, representasse uma homenagem e um reconhecimento de submissão ao monarca universal.

Francesca Barenghi

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